Pelas ruas cheias de gente, um homem, cambaleando, vagueava sozinho.
Estatura baixa, magro e aparentemente velho, passava ignorado no meio de tanta confusão. Um sem-abrigo, rejeitado pela sociedade. Incapaz de pedir esmola, talvez por vergonha de si mesmo, procurava entre os sacos e os contentores de lixo algo para comer, fazendo-o de uma forma natural.
Após a procura, continuou o seu percurso. Quando chegou ao jardim, sentou-se num banco, arregaçou as mangas, puxou as calças para cima e pôs-se a apanhar sol, como se estivesse na praia, observando as pessoas que andavam apressadamente de um lado para o outro. Entretanto, no meio de tanta bagunça, uma mulher deixa cair a carteira junto dele.
O sem-abrigo apercebeu-se da situação e recolheu a carteira. Sem mais demoras, correu para junto da mulher e perguntou:
-Minha senhora, esta carteira pertence-lhe?
E com um ar assustado mas, ao mesmo tempo, surpreendido, a mulher afirmou que sim, agradecendo o ato de honestidade. Ainda curiosa a mulher disse:
-Não é habitual alguém encontrar uma carteira e devolver, especialmente um homem da rua… Realmente, deve ser difícil viver neste estado!
E, rapidamente, o sem-abrigo respondeu:
-Minha senhora, aqui na rua não se vive, apenas se sobrevive com o pouco ou nada que temos!
Após a curta conversa, a mulher agradeceu novamente. Foi-se, um pouco indignada, deixando o sem-abrigo no banco a apanhar sol.
*(Texto elaborado após a leitura de “O vagabundo na Esplanada” de Manuel da Fonseca in Tempo de Solidão)
Cláudia Raquel Vieira, 11º 47
Ano letivo 2013-2014