Pobre vagabundo!

Ele era um pobre vagabundo. As ruas eram a sua casa e todos os dias perdia-se nelas, surpreendendo-se a si mesmo. Era simples, sem grandes complexos e sem grandes luxos, e para viver bastava-lhe apenas ter a vontade de continuar neste mundo cruel. Essa vontade, que nunca lhe faltava, manifestava-se no seu estrondoso sorriso e no brilho ténue dos seus olhos gastos.

Viveu imenso e aprendeu algo que nem todos conseguem aprender. Para ele, não eram as filosofias que se aprendem nas escolas ou nas grandes universidades que nos preparam para a vida. Para ele, a única filosofia que nos ensina como sobreviver neste mundo, jogado ao júbilo dos demónios, é a filosofia das ruas. A filosofia que nos ensina a ver as pessoas como elas realmente são e como fingem ser aquilo que não são. Não são precisas grandes teorias Kantianas nem de Stuart Mill. Basta estar atento e saber interpretar os que nos rodeiam.

Todos o desprezavam. Olhavam-no de lado. Murmuravam, como se ele fosse um peso nesta vida, como se não tivesse nada que pudesse ser aproveitado. Mas, mal sabiam eles da riqueza interior que aquele homem possuía. Não eram as suas rugas faciais, nem as suas mãos sujas e encardidas que o qualificavam. Porém, aqueles que eram mais materialistas viravam a cara quando por ele passavam, como se fosse um sacrifício. Outros ainda jogavam uma moedinha, como se isso servisse de consolo para a consciência. E será que servia mesmo?

Nunca ninguém o conseguiu compreender totalmente. A sua expressão revelava-se sempre como um mistério para todos os que o olhavam, e tornava-se viciante tentar decifrá-lo. Mas, no fundo, todos os sentimentos inimagináveis fervilhavam dentro de si: alegria, tristeza, indignação, perdão, vergonha, medo, arrependimento… Tudo nele se misturava, mas sempre disfarçadamente, com um sorriso rasgado de orelha a orelha.

Com o passar do tempo, as suas forças foram-se tornando escassas. Já não se surpreendia tão facilmente, pois, quanto mais vivia, mais aprendia. Já não tinha muitos sítios onde ir buscar aquela “infinita” vontade de viver, fragilizando-se e degradando-se dia após dia. Os olhos, todas as noites, fechavam-se como se nunca mais se voltassem a abrir, e todas as manhãs abriam-se como se fosse a última vez. Até que um dia foi mesmo o último.

Francisco Abreu, 11º 47

Ano letivo 2013-2014

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