Tinha eu uns oito anos e frequentava o segundo ano nos Salesianos do Funchal. Se bem me recordo, era uma quinta-feira de maio, um dia como outro qualquer. Tinha aulas desde as oito da matina até às três da tarde.
O dia estava a decorrer dentro da normalidade. O meu estimado pai levara-me para a escola no seu, já na altura, antigo “Branquinho”, nome pelo qual apadrinhava o seu velho carro, Renault 5 de 89. Como sempre, dava-me um beijo à saída de carro e desejava-me os bons dias. Tive aulas de manhã até ao meio dia. De seguida, fui almoçar com os meus colegas de turma na cantina da escola. Só me lembro que todos detestavam a comida de lá, e eu, para não ser excluído, também reclamava, mas, na realidade, até gostava. Após me ter deliciado à hora do almoço, fui jogar com os meus amigos para o famoso campo azul, onde jogávamos como verdadeiros pequenos campeões. Fui para a sala de aula, como sempre muito entusiasmado, com aquela fantástica vontade de aprender de criança.
Por volta das três da tarde e após a campainha tocar, todos nós nos apressámos para sair da sala e ir brincar. Eu era sempre dos últimos a sair, e, nesse dia, o meu professor despediu-se de todos e desejou-me boa viagem. Eu, espantadíssimo, perguntei-lhe o que queria dizer e ele só me disse “Boa viagem!”. Não insisti pois não era conveniente teimar com um professor, mas confesso que uma certa curiosidade apoderou-se de mim.
Entretanto, o meu maior espanto deu-se quando o meu pai me veio buscar logo após o fim das aulas, o que não era de todo normal, visto que ele nunca me ia buscar antes do fim da tarde. Perguntei-lhe o porquê daquilo e ele só me disse que íamos jantar a Lisboa. A minha reacção imediata foi dizer que ele estava a mentir, mas ele dizia sempre o mesmo. Eu aceitei o que ele me dissera, todavia fiquei sempre muito intrigado.
Quando cheguei a casa, vi a minha mãe a fazer as malas de viagem com roupa para pelo menos quatro dias. Falei com ela e ela disse-me o mesmo que o meu pai me dissera. Por um lado, estava ‘chateado’ por saber que eles não me estavam a contar a verdade, mas por outro estava contente porque estava certo de que iria viajar.
Muito sorrateiramente, fui investigar os pertences do meu pai. Vasculhei e vasculhei, até que encontrei três passagens para Lisboa. Até aí fiquei felicíssimo pois a minha suspeita confirmara-se, contudo, quando encontrei outra coisa, fiquei ainda mais feliz. Três bilhetes de avião com destino a França para o dia seguinte! Nesse momento, o meu coração parecia que ia explodir com tantos batimentos e tão rápidos. Apressei-me a arrumar tudo para que não desconfiassem que já sabia de alguma coisa.
Findados os preparativos da viagem, a minha tia levou-nos para o aeroporto. Lá, estava sempre ansioso para o meu pai me confirmar o que eu tinha visto, porque podia ter percebido mal alguma coisa. Esperava e desesperava e nunca me davam a confirmação que tanto ansiava.
Só quando entrei no avião é que o grande momento aconteceu. O meu pai finalmente disse-me que não só íamos jantar a Lisboa, como também íamos passar quatro dias em França, no Complexo da Disneyland Resort Paris. Acho que até esse momento nunca tinha recebido uma notícia tão boa na minha vida. Foi, de facto, até essa altura a melhor surpresa que uma pequena e inocente criança poderia receber.
Relativamente à viagem, a única coisa que me é possível dizer é que foram um misto de emoções fantásticas: diversão, aventura, adrenalina, movimento e de conhecimento de lugares fantásticos e culturas igualmente fantásticas, desde a Disneyland à Torre Eiffel e ao histórico Arco do Triunfo. Enfim, uma surpresa inesquecível!
Rui Pedro Gouveia Pires, 10º31
Ano letivo 2013-2014