À maneira de António Vieira

Direi agora que, vós, moscas, sois o pior ser vivo à face da terra! E vós, homens, criaturas de Deus, sois semelhantes à espécie desprezível que são as moscas.

Porquê? Porque o povo é bisbilhoteiro, sem vida própria, intruso, desavergonhado e está constantemente, a vangloriar-se com as derrotas dos outros. Assim são as moscas, estes indignos insetos, fazem-se convidados nos lares das famílias, atenciosamente, escutam as conversas alheias, pousam, descaradamente, nas suas refeições e como se tudo isto não bastasse ainda emitem aquele tão nosso conhecido “zumzum” incomodativo que nos perturba no silêncio da noite. Finalmente, são apanhadas nas armadilhas criadas pelos homens. As luzes azuis nos tetos dos restaurantes seduzem-nas e atraem-nas mas não passam dos seus cemitérios. E, tal como elas, os homens, com as armadilhas da vida que se submetem como o álcool e o tabaco também acabam por ter o seu fim.Aconselho-vos, moscas, que estejais atentas às armadilhas dos homens, porque eles, eles sim devem cair nelas e fazer delas lições para que mudem as suas atitudes.

Miguel Gomes e Catarina Ferreira, 11º 40

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Reconheço em vós, pavões, um mal que aflige também os Homens. A necessidade de impressionar e deslumbrar que causa o majestoso abrir da cauda dos pavões-machos é a mesma que impulsiona as modas e a riqueza da aparência. Pena que esta aparência rica e cuidada se associa geralmente a uma pobreza de espírito, tal como o pavão que, para além das suas penas coloridas não parece possuir mais nada. Por que não experimentais, pavões, cativar com o vosso carácter e ações? Por que não experimentais a humildade em vez da vaidade? Por que não experimentam os Homens impressionar pelo que são e não pelo que aparentam ser? Por que não experimentam os Homens julgar ideias em vez de aparências? As respostas não as tenho, mas peço-vos que as considerem. Porque vós tendes qualidades para além das vossas penas e sons e os Homens têm valor para além das suas roupas e posses. O interior vale mais que o exterior. Então, certificai-vos de que a vossa maravilhosa plumagem está sempre acompanhada de um maravilhoso pavão.

Laura Andrade, 11º46

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Lembrei-me de descer às profundezas do oceano, onde a luz solar não penetra. Onde o ambiente é inóspito e obscuro e as criaturas que o habitam têm de vós o desdém e a repugnância.

Falar-vos-ei, em particular, do peixe-diabo: ser sinistro e detestável que se guia pela luz que produz, coisa semelhante ao ego implacável de alguns de vós. A luz que ilumina a si e às suas decisões num meio, efetivamente, hostil. Um meio determinado pelas luzes dos peixes que as possuem. Um meio onde vale tudo, onde com o abominável se vence e portanto com o crime e a marginalidade se subsiste. Lá a penumbra é absoluta e nem o peixe-diabo, provido de luz, está apto a distinguir a sensatez. Está à margem da sociedade e dos seus bondosos costumes. Vive mergulhado na maldade e na atrocidade, onde ninguém, senão ele, encontra vida e motivação. Vive mergulhado na profundidade, abaixo do razoável, onde é impossível gerar brilhantismo.

De lá não consegue sair, pois se o tentar, será incapaz de enfrentar a luz sensata, mas contundente e incisiva, do fulgor que envolve o espaço acima do seu meio. Mais, deste espaço ninguém o aprecia, até porque à sua realidade ninguém atribui vigor ou consistência.

André Nóbrega, 11º46

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