Texto realizado a partir de Cartas de Guerra, de António Lobo Antunes.
Chiúme, 1 de julho de 1971
Minha querida amada,
Não imaginas a alegria que senti ao ler a tua carta! Apesar de estar distante, o meu amor por ti e agora pela nossa filha, fruto do nosso carinho e ternura, aumenta de dia para dia. É como se quanto mais saudade tenho de casa, mais vos amo, a cada hora que aqui passo.
Sonhei imensas vezes com este momento: ela deitada no meu colo, de olhos azuis grandes e brilhantes, tal como os teus, com os lábios vermelhos e carnudos e a sua pele branca como a neve, acabadinha de sair do teu ventre e eu, pai babado, chorando de alegria, por ver que, agora, a coisa mais importante da minha vida era um ser vivo, feliz e tão pequenino, que eu segurava com uma só mão. Imaginava-a como uma Matilde, uma Leonor ou, provavelmente, uma Inês.
Durante esta semana, fui recebendo todos os dias cartas dos nossos familiares que me felicitaram pelo grande acontecimento. A tua avó diz que ela é parecida contigo. Uma bebé frágil, mas ao mesmo tempo extrovertida, enquanto a minha mãe diz que a menina é a minha “fotocópia”. Gostava imenso de poder concordar com a minha mãe, portanto, da próxima vez, envia-me fotos da nossa princesa.
Com amor,
António
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Rufina Freitas, 10º42