Evolução. Que palavra peculiar. Porém, evolução, por vezes, torna-se sinónimo de mudança. Mudança de tempos, de mentalidades, de ideias, das vivências. E é exatamente esse o meu foco aqui neste pequeno e humilde texto de natal. Um texto que no seu conteúdo se assemelhará a uma carta ao pai natal que há tanto tempo não é escrita.
Porque é que a evolução exige tantas perdas? Perdas do verdadeiro sentido do Natal por exemplo. Eu vivo num presente sem grande sentido, onde não existe sinceridade na vivência desta que é a maior época do ano. Ao longo destes meus 15 anos, ouvi os meus avós, os meus pais e demais superiores, à medida que se aproximava o nascimento de Jesus, descreverem,com certa nostalgia nas palavras, uma época à qual chamam “a Festa”.
“A Festa” era a época em que o frio, que constantemente nos convida a uma chávena de cacau, enquanto lemos um bom livro agasalhados no sofá, não era obstáculo para que, ao soar das 5h da madrugada sem relógio, se saísse das camas feitas de palha, num quarto pequeno partilhado por todos, com destino à igreja da sua paróquia para poder viver em comunhão as missas do parto. Eram 9 madrugadas aconchegantes onde o calor humano emanava e a felicidade inocente era soberana.
E o dia de Natal finalmente chegara!
Era uma alegria chegar ao dia de natal. Naquele dia em que o jantar, tradicionalmente, se fazia na casa da avó, experimentava-se a maior felicidade de todo o ano. Lembro-me de ouvir a minha tia dizer: “e no natal o meu pai comprava laranjas, queijo, azeitonas, manteiga e carne de vinho e alhos (que não podia faltar) porque não havia nada mais que um pãozinho ao longo do ano”.
As prendas? Aquele que hoje é um motivo de preocupação e acumular de desilusões (quando se recebe um par de peúgas em vez de um jogo de consola) era a cereja no topo do bolo. Bem, cereja não mas sim laranja. Na casa da avó davam uma laranja e um balão para cada um e brincavam com a laranja como se de um boneco se tratasse. Nem a comiam só pela alegria de ter uma laranjinha. “Sentia-me plena, acordávamos mais cedo porque era natal”. Digo eu que era um dia de ser criança, um dia em que viviam a sua verdadeira condição de crianças inocentes a quem a vida, ao longo do ano, subcarregava de trabalho.
O Natal era uma junção de todos os bons sentimentos que, à hora do jantar, atingiam o seu máximo.
Vestiam a chamada “roupa da missa” para ir para a casa da avó pois a miséria era tanta que não se podia usar a roupa boa durante o dia. Vinham com o pai e a mãe, a pé, até à casa da avó, independentemente da idade. Era uma caminhada única, na qual se juntavam irmãos e até primos, numa euforia tal que palavras não descrevem. Tudo tinha um gostinho a verdade, a sinceridade, a amor.
Eu não vivi, fisicamente, esses Natais. Não tive a sorte de experimentar cada sensação que o tempo, em conjunto com a condição financeira, proporcionavam à faixa etária na qual me encontro. Todavia, pude saboreá-las, de leve, envolto na melodiosa voz daqueles que me são mais chegados e que, tal como eu, sentem saudades de sentir no coração o verdadeiro sentido do Natal.
Nos dias de hoje, os jovens têm como prioridade as redes sociais, os jogos de consola, os filmes, enfim, não aproveitam plenamente esta época que nasce no seio familiar e termina, de igual modo, com um beijo na testa e a promessa de que “para o ano ainda será melhor”.
E é esse o meu sonho para um Natal futuro: que nesse tempo longínquo denominado de Futuro, se viva o natal do passado.
Sonho em acordar de manhã com aquele cheirinho a pinheiro que invade a casa, acompanhado da “água na boca” proveniente do aroma da canjinha. Tudo isto enquanto estou nos meus cobertores agradecendo a Deus por ter devolvido os valores aos Homens, a inocência às crianças, a humildade aos jovens, para que todas essas pequenas coisas, quando juntas, se tornem grandes e façam o Natal ter todo o sentido. Amor, Família, Paz, Plenitude. É esse o meu Natal. Contudo, não passa do Meu sonho. Tornar-se-á realidade?
Miguel Nóbrega (10º44)
Docente: Rosário Gouveia