Manuel, assim se chama o sem-abrigo, despreocupadamente, levava as suas tralhas às costas, sempre acompanhado do seu grande amigo cão, Golias. Iam então à procura de um lugar para ficar quando começasse a anoitecer. Tinha cerca de quarenta anos, era magro, possuía roupas velhas, cheias de pequenos buracos, com sinais claros de sujidade. Uma fina t-shirt preta e uns calções pelos joelhos que terão sido, em tempos, umas boas calças de ganga, mas foram cortados, e um par de chinelos, já muito gasto, mostravam os pés magros e as unhas maltratadas. Às costas, uma mochila preta e bem carregada com várias cores, que transportava diariamente para onde fosse.
Apesar de tudo o que passou e passa todos os dias, este grande homem nunca deixou o seu sorriso, um pouco amarelado, e o brilho dos seus olhos verdes.
Chegaram a uma praia onde iam passar aquela noite, quente e estrelada. Decidiu entrar no café para pedir um simples copo com água. A seu lado, estava sempre o seu companheiro Golias, sujo, com o pêlo maltratado e algumas manchas de sangue. Foram ambos olhados por todos com desprezo e até com certo nojo. Mesmo assim, e com um sorriso na cara, dirigiu-se ao balcão:
– Desculpe, mas queria um copo com água, por favor!
O dono do café, com um ar horrível e arrogante, olhou para o senhor Manuel e respondeu-lhe amargamente e levando-o para a rua:
– Não lhe vou dar nada nesse estado, e também não são permitidos animais cá dentro. Rua já!
Aquele homem nunca fora tão maltratado antes, chocado, sem palavras e, em lágrimas, baixou a cabeça, respirou fundo e voltou a levantá-la:
– Muito obrigado, mesmo assim. Desculpe o incómodo. Água não se nega a ninguém, mas também, se um senhor, arrogante e egoísta como o senhor, me viesse pedir alguma coisa com essa má educação, a minha resposta seria claramente um não.
Tatiana Barradas (11º52)
Docente| Carla Martins